Não é de hoje que são publicadas informações sobre as dietas de emagrecimento. É um tema largamente abordado e presente em reportagens sobre estética, emagrecimento, saúde, propagandas de produtos, entre outros. E na maioria dos casos, elas compartilham uma característica clássica: são MILAGROSAS! Apresentam a idéia de que é possível perder peso de uma forma incrivelmente rápida.
Estranho pensar que ao mesmo tempo em que são divulgadas diversas reportagens sobre emagrecimento e cardápios, a porcentagem de obesidade bem como de doenças crônicas não transmissíveis vem aumentando cada vez mais. A qualidade e aplicabilidade destas informações ficam, assim, questionáveis.
Pesquisas indicam que a obesidade não está limitada a uma região, país ou grupo racial/étnico. É um fenômeno mundial, que afeta ricos e pobres. Entende-se que a busca por esse tipo de informação seja grande, porém, a ausência de controle científico permite que muitas informações sejam simplesmente lançadas, sem necessariamente ter um caráter verdadeiro, o que pode confundir o público leigo.
Emagrecer não é um processo simples ou fácil, nem tão pouco pode ter seu tempo exatamente pré-determinado. O processo de emagrecimento envolve mais do que eliminar a gordura que está em excesso no corpo, elimina também toxinas que até então estavam guardadas – por isso deve ocorrer de uma forma equilibrada e respeitando o ritmo biológico, até que o equilíbrio seja re-estabelecido novamente. É necessário dar ao corpo o que ele precisa, caso contrário ele não consegue trabalhar direito; engordar é apenas um dos pontos que podem surgir a partir de um desequilíbrio inicial.
O nosso corpo é formado por 100 trilhões de células, sendo que 50 milhões são renovadas diariamente. Para que essas células sejam renovadas são necessários nutrientes, que estão presentes nos alimentos. Com esse pensamento é possível entender que se alimentar é extremamente importante durante um tratamento de perda de peso, descartando já a idéia de dietas restritivas. Além disso, o corpo precisa de macro (carboidratos, proteínas e gorduras) e micronutrientes para realizar suas funções e também para permitir o emagrecimento, o que indica que todos os grupos devem também estar presentes em um cardápio com essa proposta. A importância de todos os grupos, apesar de nem sempre aceita ou valorizada, é a mesma, já que trabalham em conjunto. Caso contrário, exemplificando, é como se fosse marcada uma reunião, sem que um faxineiro limpasse a sala, a secretária organizasse a mesa e os membros aparecessem, estando apenas o responsável presente.
Outro ponto comum, apesar de incorreto, é a questão de troca de dieta entre as pessoas. Apesar de compartilharmos todos da mesma informação sobre o número de células, somos seres individuais, ou seja, diferentes uns dos outros. A forma como o organismo de uma pessoa se comporta ou responde a um tratamento é sempre única. Seria possível então o conceito de uma mesma dieta ser boa para todas as pessoas? Pode uma dieta generalizada atender à especificidade das pessoas? É necessário ser levado em conta a questão da individualidade bioquímica.
É importante entender que se engordamos é porque existe algo de errado, sendo que o hábito alimentar é uma das grandes causas. Isso mostra que para realmente trabalhar esse caso, é necessário readequar o hábito alimentar, que por sua vez contribuirá para perda de peso. Esse é o caminho lógico, atuar na causa. Porém o mais comumente observado é que quando se engorda é necessário perder “os quilos a mais”, de preferência de uma maneira rápida. Perder peso deve ser um processo natural e com efeitos de longa duração. De acordo com artigo cientifico “ciclos de perda e recuperação de peso têm mostrado aumentar os riscos à saúde e podem estar relacionados ao desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis”.
A velocidade do emagrecimento depende também da velocidade do ganho de peso, como também do período em que a pessoa ficou com esse desequilíbrio, e ainda se há ou não desordens associadas, ou seja, do contexto no qual a pessoa está inserida. Sem considerar ainda que uma dieta aleatória e não equilibrada provoca prejuízos no corpo, por depletar reservas de nutrientes importantes como zinco, cobre, magnésio, ácido fólico, vitamina A, D e vitaminas do complexo B, causando, por exemplo, cansaço e resfriados.
Por fim conscientizar os indivíduos sobre a maior importância da saúde em relação à estética, devido ao grande apelo estético visto atualmente, é ponto fundamental. Estudo sobre nutrição conclui: “há necessidade de reflexão acerca da valorização desse ideal de beleza veiculado pela mídia e sua influência nas práticas alimentares, que pode levar à instalação de transtornos do comportamento alimentar”.
Não existem dietas milagrosas. A não ser que o esforço necessário em um tratamento supervisionado de emagrecimento de forma saudável seja considerado um milagre.
Nutrição Clínica Funcional pela VP Consultoria Nutricional/ Divisão Ensino e Pesquisa.
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